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segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Por Onde Fui: Saindo do Conforto na Pensilvânia – Por Rafael Yamamoto

E no Por Onde Fui de hoje temos uma história muito legal do Rafael Yamamoto que contou como foi fazer a universidade na Pensilvania, nos Estados Unidos e como isso mudou sua maneira de pensar e o fez amadurecer. Envie seu texto você também! 

Por Rafael Yamamoto

Saindo do Conforto


Eu tinha 19 anos e não tinha a mínima noção do que eu estava fazendo. Que sorte. Em 2009 apareceu uma chance para eu jogar futebol nos EUA e estudar lá com uma bolsa de estudos. Lógico que eu não sabia no que eu estava me metendo. Lógico que eu não sabia o que saudade era, o que uma outra cultura era ou como difícil é morar com alguém.

Eu sou filho único. Só tinha divido um quarto com a minha mãe, quando pequeno. Aos 19, me encontrei dividindo o quarto com um holandês-canadense. Foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido.

O nome dele é Sean Verhallen. Sean é uma pessoa peculiar. Enquanto eu ainda estava na pegada de curtir a noite e as baladas, ele já tinha questionamentos muito mais profundos do que eu poderia imaginar. Talvez porque ele teve que enfrentar um gigante choque cultural: da Holanda para o Canada, do Canada para a Holanda. Não deve ter sido fácil. Mas, assim como foi para o Sean, toda mudança nos faz crescer.

Por sorte, eu fui inconsequente e inexperiente o suficiente para aceitar essa proposta de sair do conforto da vida tradicional brasileira e ir ao encontro de uma aventura que mudaria, para sempre, quem eu sou. Eu era um menino. Eu nunca fui do cara mais estudioso na escola, muito menos o mais quieto. Sempre fui bagunceiro e sem-noção.

Tudo mudou depois do primeiro semestre nos EUA. Como vocês já devem saber, leitores, para jogar bola e manter a bolsa de estudos, o estudante-atleta precisa ter boas notas – um GPA de pelo menos 2.0 de 4.0. Assim que cheguei lá, eu tinha a mentalidade brasileira do “um C é o bastante; pra que um A?”. Até que as minhas notas saíram. Não foram nada boas. Meu GPA foi de 2.2, o suficiente para jogar, mas ainda um dos piores do time. Coach Mark McKeever me chamou em seu escritório para me alertar: “Rafa, você teve uma das piores notas do time, se você não melhorar, vou cortar sua bolsa.” Pá. Pum. Acordei.


Três anos e meio depois, minha mentalidade é totalmente outra, assim como quem eu sou. Talvez essa bronca do rancoroso e linha-dura Coach Mark McKeever tenha sido mais impactante do que eu acho. Terminei a faculdade com um GPA de 3.4. Não é excelente, mas é ótimo. Mas a real é que, hoje em dia, eu não estou ligando para a nota.


Eu estou, entretanto, extremamente contente com quem eu me tornei. Sair do conforto da tradicional vida brasileira de ir para a escola, entrar numa faculdade, conseguir um diploma e achar um trabalho onde eu ficaria 8 horas atrás de uma mesa olhando para uma tela só foi possível porque eu levantei do sofá e tive a coragem para enfrentar essa aventura nos EUA. Para ter a chance de estudar lá, tive que treinar muito meu físico, estudar muito inglês e matemática para o SAT e TOEFL. Foi demais.

Não nego que tive medo, em momentos. Não nego que questionei se tinha feito a melhor escolha. A faculdade nos EUA é muito diferente. Lá, você aprende a pensar, não a executar. Eu não aprendi a escrever uma crônica, um artigo ou uma noticia sobre o ex-BBB que fez uma tatuagem inusitada. Lá, eu aprendi a abrir minha cabeça e questionar os padrões “normais” da sociedade atual.

Questionamentos que só foram aprofundados após um tempo de solidão. 

No meu ultimo semestre de faculdade, a maioria dos meus amigos mais próximos tinham se formado ou saído da faculdade. Fiquei muito sozinho. Muito. Mas eu não me joguei pra baixo. Como diria o Capitão Nascimento, “eu cai, mas eu cai pra cima”. Foi por causa dessa solidão que eu tive tempo de ler, assistir filmes e pensar sobre questões profundas da existência humana. Pode até parecer clichê, mas esse refugio de amigos e deveres sociais foi a melhor coisa que poderia ter me acontecido.

E, por sorte, o menino Rafael que não sabia onde estava se metendo foi ousado o suficiente para aceitar esse desafio de estudar no exterior sozinho, com família morando a mais de 10 mil quilômetros de distância. Os perrengues que ele passou o ajudou a se tornar quem eu sou hoje.

Hoje, eu não quero mais o conforto da vida moderna. Eu quero viajar, eu quero questionar, eu quero conversar com pessoas sobre suas alegrias, anseios e sonhos. Eu quero fazer as pessoas questionarem. Eu quero que você, leitor, ao ler esse texto tenha a vontade de fazer alguma coisa louca. Quero que você tenha a coragem que o Rafael de 2009 teve de sair pelo mundo sem medo, mal falando inglês para crescer como pessoa. 


Essa tela que você olha, no momento, pode te ensinar muito, mas só as experiências ao vivo o transforma. Saia da sua zona de conforto. Conheça novas pessoas. Saia da sua rotina. E, acima de tudo, não deixe nenhuma oportunidade para trás por medo ou falta de coragem. Seja inconsequente. Por mais idiota que possa soar, “You Only Live Once”.

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